
Em passagem por São Paulo nesta segunda-feira, 01/06, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse que o Brasil vai ter que fazer a lição de casa sobre o meio ambiente antes de conseguir por fim às barreiras internacionais e ampliar suas exportações de biocombustíveis. “O país terá primeiro que parar de desmatar a Floresta Amazônica, provar que sua agricultura é sustentável e, por fim, não prejudicar os países mais pobres”. Foi esse o recado dado durante o Ethanol Summit – cúpula sobre biocombustíveis organizada pela União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica).
Segundo dados da Unica, a produção brasileira de etanol em 2008 totalizou 24,61 bilhões de litros. Desse montante, 4,26 bilhões de litros foram destinados ao mercado externo, 54% mais do que no ano anterior.
“O problema é que se o Brasil exportar mais, vai plantar mais, e expandir suas fronteiras agrícolas. Com isso, vai expandir ainda mais o gado para a floresta. Vocês têm que provar antes que podem reduzir as emissões de gás carbônico sem afetar a sua própria sustentabilidade e ainda sem prejudicar os países mais pobres”, disse Clinton, que frisou várias vezes a necessidade de o Brasil reduzir o impacto ambiental da sua agropecuária e do desmatamento, responsáveis por 75% das emissões de gás carbônico do país.
Elogios ao etanol
O ex-presidente dos Estados Unidos afirmou ainda que é favorável ao etanol, mas adiantou que, para que o país consiga realmente o apoio mundial para seu agrocombustível, precisará dar bons exemplos ao mundo.
“O mundo inteiro vai pensar e vai apoiar se o Brasil conseguir resolver a equação com as suas florestas. Vocês terão o apoio do mundo todo se resolverem esse problema. Agora, vocês precisam realmente acreditar na inovação. Não têm que combater os carros elétricos, pois logo todos vão preferir os biocombustíveis”, alegou.
O ex-presidente ressaltou acreditar no sucesso do etanol brasileiro. Mas fez críticas claras:
“Vocês têm uma eficiência grande na redução de emissões dos transportes e na produção de energia a partir de hidrelétricas. Mas vocês são o oitavo maior país em emissões e estão próximos de Índia e China”, destacou Clinton.
Segundo ele, o País administrou muito bem a oportunidade da cana-de-açúcar e lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva até afirmou que a culpa da crise global seria de um grupo de "loiros de olhos azuis" estrangeiros, numa referência aos especuladores dos países desenvolvidos.
“O fato é que a crise econômica mostra a nossa interdependência. Vivemos um momento muito instável. A desigualdade aumentou muito”, lembrou, reafirmando que as mudanças climáticas e seus efeitos não podem mais ser ignorados.
Sustentabilidade
Para o ex-presidente norte-americano, a sustentabilidade é única forma de se reduzir a instabilidade e a desigualdade mundiais. Em relação à desigualdade social, Clinton lembrou que apenas países europeus que cumprem as metas do Protocolo de Kyoto, assinado em 1990, conseguiram reduzi-la.
Na avaliação de Clinton, Dinamarca, Suécia, Alemanha conseguiram, ao mesmo tempo, reduzir a desigualdade e serem os únicos entre as mais de 140 nações signatárias do Protocolo de Kyoto a conseguir cumprir as metas previstas.
“Espero que o Brasil, assim como os EUA, adotem um sistema que valorize as emissões de carbono”, disse o ex-presidente.
Clinton iniciou sua palestra com uma brincadeira política. Ele lembrou que esteve no Brasil pela primeira vez em 1997 e que, naquele ano, ele e o então presidente Fernando Henrique Cardoso sofria com os efeitos da crise asiática:
“Interessante que agora, com a crise global, o Brasil tem US$ 215 milhões em reservas e os Estados Unidos estão pegando dinheiro emprestado. Parece que as coisas mudaram muito, não é?”.
Fonte: jornal O Globo