segunda-feira, 27 de julho de 2009

Um olhar diz tudo

Sol e Lua


Quando o SOL e a LUA se encontraram pela primeira vez, se apaixonaram perdidamente e a partir daí começaram a viver um grande amor.

Acontece que o mundo ainda não existia e no dia que Deus resolveu criá-lo, deu-lhes então o toque final ... o brilho !

Abateu-se sobre eles uma grande tristeza quando tomaram conhecimento de que nunca mais se encontrariam.

A LUA foi ficando cada vez mais amargurada, mesmo com o brilho que Deus havia lhe dado, ela foi se tornando solitária.

O SOL por sua vez havia ganhado um título de nobreza "ASTRO REI", mas isso também não o fez feliz.

Deus então chamou-os e explicou-lhes:

Vocês não devem ficar tristes, ambos agora já possuem um brilho próprio.

A LUA entristeceu-se muito com seu terrível destino e chorou dias a fio...

Já o SOL ao vê-la sofrer tanto, decidiu que não poderia deixar-se abater pois teria que dar-lhe forças e ajudá-la a aceitar o que havia sido decidido por Deus.

No entanto sua preocupação era tão grande que resolveu fazer um pedido a ELE:

Senhor, ajude a LUA por favor, ela é mais frágil do que eu, não suportará a solidão...

E Deus em sua imensa bondade criou então as estrelas para fazerem companhia a ela.

A LUA sempre que está muito triste recorre as estrelas que fazem de tudo para consolá-la, mas quase sempre não conseguem.

Hoje eles vivem assim....separados, o SOL finge que é feliz, a LUA não consegue esconder que é triste.

O SOL ainda esquenta de paixão pela LUA e ela ainda vive na escuridão da saudade.

Dizem que a ordem de Deus era que a LUA deveria ser sempre cheia e luminosa, mas ela não consegue isso.... porque ela é mulher, e uma mulher tem fases.

Quando feliz consegue ser cheia, mas quando infeliz é minguante e quando minguante nem sequer é possível ver o seu brilho.

LUA e SOL seguem seu destino, ele solitário mas forte, ela acompanhada das estrelas, mas fraca.

Humanos tentam a todo instante conquistá-la, como se isso fosse possível. Vez por outra alguns deles vão até ela e voltam sempre sozinhos, nenhum deles jamais conseguiu trazê-la até a terra, nenhum deles realmente conseguiu conquistá-la, por mais que achem que sim.

Acontece que Deus decidiu que nenhum amor nesse mundo seria de todo impossível, nem mesmo o da LUA e o do SOL... e foi aí então que ele criou o ECLIPSE.

Hoje SOL e LUA vivem da espera desse instante, desses raros momentos que lhes foram concedidos e que custam tanto a acontecer.

Quando você olhar para o céu a partir de agora e ver que o SOL encobriu a LUA é porque ele deitou-se sobre ela e começaram a se amar e é ao ato desse amor que se deu o nome de ECLIPSE.

Importante lembrar que o brilho do êxtase deles é tão grande que aconselha-se não olhar para o céu nesse momento, seus olhos podem cegar de ver tanto amor.


Juntos


Eu quero ficar velhinha ao lado do meu amor....




30 gramas de fetiche


Uma historiadora de moda inglesa conta em livro a história da calcinha. Conclusão: quanto menores elas são, maior a liberdade das mulheres

Diariamente, modelos e atrizes do mundo todo são alvos de câmeras indiscretas ávidas por imagens de suas calcinhas – ou da ausência delas, o que costuma fazer um sucesso ainda maior. Esse interesse pelas roupas íntimas alheias revela o significado atual dessas nada inocentes peças do vestuário feminino. Cobiçadas por mulheres e marmanjos (ainda que por motivos diferentes) e com uma variedade de modelos, cores e tamanhos que atende a todos os gostos e ocasiões, as lingeries movimentam a imaginação e o mercado.

Só no Brasil, foram vendidos 835 milhões de peças de moda íntima em 2008, um faturamento de R$ 4,59 bilhões (sem contabilizar o mercado paralelo de fetichistas que compram e vendem calcinhas... usadas). A maioria dos consumidores são mulheres à procura de conforto e sensualidade, mas é crescente o número de compradores homens em busca de um presente repleto de segundas intenções. As calcinhas modernas pesam em média 30 gramas, mas estão carregadas de significados.

Fica difícil acreditar que esses “objetos do desejo” um dia já foram “objetos do desprezo”, conforme conta o recém-lançado livro Por baixo do pano, da historiadora de moda inglesa Rosemary Hawthorne. “Ao escrever sobre a história das calcinhas, sem perceber, eu estava mapeando a história social da mulher ocidental e descrevendo não só o progresso de suas roupas de baixo, mas o progresso das próprias mulheres”, diz Rosemary. Ela conta que, até o século XVIII, os calções, ou ceroulas, eram peças exclusivas do guarda-roupa masculino e as mulheres que ousassem usá-los eram consideradas “criaturas libertinas e de moral duvidosa”. Naquela época, as moças sérias deixavam suas partes baixas livres, leves e soltas. Por baixo dos enormes e pesados vestidos, bastavam uma ou duas anáguas, o corpete e uma camisola de linho diretamente sobre a pele.

Foi somente por volta de 1800 que surgiram na França os modelos femininos, ancestrais da sensual calcinha contemporânea. Produtos da Revolução de 1789, que simplificou o vestuário da Europa inteira, os calções ou pantaloons vieram para, digamos, diminuir a ventilação por debaixo dos agora mais leves e sensuais vestidos. É perfeitamente compreensível o fato de não terem entusiasmado as moçoilas da época.Com comprimento abaixo dos joelhos ou até os tornozelos e, para piorar, feitos de um tecido “cor de carne”, estavam longe de qualquer ideal estético.

Se a França deu às calcinhas a chance de entrar para a história da moda, foi na Inglaterra, durante o recatado período vitoriano (1837-1901), que elas entraram definitivamente para o guarda-roupa das mulheres de poder aquisitivo – os altos preços surgiram então e, como se sabe, permanecem. Os moralistas vitorianos elevaram as calçolas femininas ao patamar máximo de qualidade, mas preferiam não tocar nesse assunto. Falar sobre roupas íntimas era tabu, pois elas evocavam lembranças embaraçosas sobre detalhes anatômicos. Nas lojas, a seção de lingeries ficava escondida, e nos anúncios publicados em revistas as calçolas apareciam monotonamente dobradas em prateleiras.

As mulheres do século XIX ficariam coradas se vissem nossas tanguinhas coloridas, estampadas, rendadas etc. “A simplicidade das calcinhas fazia sentido em uma época em que as mulheres não mostravam seu corpo nem para os maridos”, diz a historiadora de moda Miti Shitara, professora da faculdade Santa Marcelina. Isso valia para o mundo todo? “A Europa sempre foi o centro da moda. O que era usado na Europa também era no Brasil, inclusive a moda íntima”, afirma Miti.

Foi somente depois da Primeira Guerra Mundial, na década de 1920, que as calcinhas começaram a ficar mais parecidas com as que conhecemos (com as calçolas da vovó, é claro). As mudanças ocorridas nos quatro anos de conflito marcaram o nascimento da mulher moderna, que agora exibia mais do corpo. Com a barra das saias na altura dos joelhos, as melindrosas dançavam o charleston e revelavam as dimensões reduzidas de suas roupas íntimas. Nada que se compare à ousadia das mulheres emancipadas da década de 1970, com suas calcinhas de cintura baixa, acompanhando os jeans saint-tropez. Nessa época, com o desenvolvimento da indústria têxtil e a fabricação de modelos adaptados ao corpo das brasileiras, a moda íntima nacional se desvinculou da Europa. E continuou assim.

Enquanto europeias e americanas são adeptas do fio dental e da calçola – que usamos de vez em quando, as primeiras em momentos especiais e as outras em semanas necessárias –, ficamos com o meio termo. “A brasileira gosta de tanga de náilon, o carro-chefe de todas as empresas de lingeries no país”, diz a empresária Indhira Pêra, diretora do maior salão de moda íntima da América Latina. “As mulheres querem conforto e sensualidade na mesma peça, pois saem para trabalhar de dia e querem estar preparadas, se precisarem, à noite”, afirma. Nesse caso, melhor fugir das brochantes calcinhas beges, cor preferida das brasileiras, ao lado das brancas, pretas e vermelhas.


A "ignorância" torna as pessoas mais felizes?



Pesquisador italiano afirma: quem estuda mais tende a se sentir mais frustrado, por não conseguir atingir o sucesso que supõe merecer

Uma carreira de extremo sucesso é o sonho natural de quem frequenta uma universidade e encara os livros com dedicação. Mas ele nem sempre se realiza. Paralelamente, um operário que consiga sustentar os filhos pode tirar do trabalho muito mais satisfação, já que estudou pouco e tinha baixas expectativas. "A ideia de que a evolução na carreira e o aumento das possibilidades de consumo invariavelmente contribuem para um maior bem-estar é consenso na economia. Mas não tem muito suporte na psicologia", afirma o economista italiano Francesco Ferrante, da Universidade de Cassino, na Itália. Para Ferrante, quanto mais educação, maiores as expectativas do trabalhador - e também maior a frustração, caso esses sonhos não se realizem. "De fato, a educação e o acesso a ambientes estimulantes podem ter um efeito perverso na satisfação com o trabalho".

Na pesquisa (com italianos), as declarações de alta satisfação com a vida aumentam até os 10 anos de escolaridade, e caem entre aqueles que estudaram mais que isso. As declarações de baixa satisfação com a vida atingiram seu pico entre aqueles com 15 anos ou mais de escolaridade.

O economista explica que, à medida que o trabalhador encontra mais oportunidades de escolha em relação ao trabalho, torna-se mais pressionado por dúvidas e concessões a fazer. O problema, de acordo com Ferrante, é que, ao fazer qualquer escolha, há sempre a possibilidade do arrependimento. "Quando as possibilidades aumentam, nossos padrões para o que é aceitável também se elevam. E quando o resultado não é o esperado, fica a frustração, porque havia inúmeras outras possibilidades que não foram escolhidas", diz o pesquisador. Ao mesmo tempo, o trabalhador com pouca instrução, sem muitas possibilidades no emprego, pode encontrar satisfação apenas por ter seu dinheiro garantido.

O economista não questiona, porém, o valor da educação. Ele a considera uma importante variável para a satisfação pessoal e profissional. A educação alarga o horizonte e as possibilidades pessoais e profissionais - como trabalhar em um outro país, receber salários polpudos ou montar um negócio bem-sucedido. O que o Ferrante mostra, porém, é que a abordagem puramente técnica da relação entre educação, trabalho e satisfação não contempla as nuances psicológicas do homem, com seus conflitos internos e desejos, que mudam de acordo com as realizações. Algumas poucas vitórias são suficiente para inflar ambições, que podem se tornar inacessíveis e, assim, gerar insatisfação.


Gráfico acima mostra o nível de satisfação ao longo da vida (idade/satisfação)

Ferrante também detectou, com base em estatísticas do censo italiano, que a satisfação profissional dos bem educados muda ao longo da vida. "A [curva da] satisfação tem formato de U", afirma. No início da carreira, o contentamento com as conquistas acadêmicas e o mundo de possibilidades profissionais garantem a felicidade do trabalhador. Na maturidade, ele sofre ao perceber que muitos sonhos não serão realizados (essa fase chega por volta dos 55 anos para os italianos, mais tarde do que em outros países, segundo Ferrante). No final da vida produtiva, vem a aceitação das vicissitudes, e as pequenas conquistas recebem um olhar mais carinhoso. O pesquisador também nota que as mulheres são mais satisfeitas que os homens, devido a restrições que recebem em sociedades ainda machistas. Apesar de ter sido realizado com base na população italiana, Ferrante acredita que suas percepções são universais. O estudo foi apresentado na conferência internacional "Economia Comportamental, Psicologia Econômica: Teoria e Política", em Halifax, no Canadá, no mês passado.

(Fonte: Revista Época)


Você é feliz no trabalho?


Em 13 de julho, a capa de Época apresentava a seguinte questão: “Dá para ser feliz no trabalho?”. A reportagem, baseada em dois livros sobre o tema, me fez pensar sobre a minha relação com o trabalho. Eu adoro trabalhar. Mas conheço mais gente que detesta do que gente que gosta do que faz. E o curioso é que muitos dos que não gostam falam mais de trabalho do que eu. Não do trabalho em si, mas do ambiente do emprego. Parecem presos às disputas de poder, às fofocas, a quem está sacaneando quem, ao que o fulano disse ou deixou de dizer, aos supostos privilégios de um em detrimento de outro. São alimentados pelas pequenezas do cotidiano que os massacra. E, mesmo que não admitam, também colaboram com sua cota de intrigas. Mesmo que não admitam, há um prazer nessa dinâmica do dia a dia, seja num escritório revestido de mármore, seja num chão de fábrica.

Fiquei pensando por que eu adoro trabalhar. Primeiro, para mim há uma diferença fundamental entre trabalho e emprego. Na minha divisão pessoal, o emprego é o lugar onde eu trabalho. Se meu emprego permite que eu trabalhe, é um bom emprego. Se não permite, é hora de sair em busca de um que me deixe trabalhar. Então, é uma relação de troca, para além do salário. Eu faço da melhor maneira aquilo que sei fazer de melhor, e o emprego me dá as condições e a autonomia para que eu possa fazer o melhor que sei fazer. Se essa relação está equilibrada, todos ganham. E eu posso trabalhar sossegada.

De tempos em tempos, eu faço uma análise dessa relação de equilíbrio. O resultado me mostra se algo precisa mudar. Na minha avaliação, interna e pessoal, entram não só as questões objetivas, mas também as subjetivas. Ou seja: o salário, os equipamentos, as condições, o espaço, o investimento é importante, mas ser tratada com respeito e educação é tão importante quanto. Se um dia eu tivesse um salário milionário, mas meu chefe cometesse o que hoje é chamado no Código Penal de assédio moral, tenho certeza de que não ficaria um minuto a mais.

Deixar-se maltratar arrebenta com a nossa autoestima, nos quebra a espinha. E ninguém trabalha bem de espinha quebrada. Trabalhador aniquilado nos seus desejos só serve a chefe incompetente. E nenhuma empresa, tenha o tamanho que tiver, pode ser bem-sucedida se tolerar gente assim em cargos de chefia. Se não for pelos outros cem motivos, basta um: chefe abusivo mata a iniciativa e a criatividade.

Eu aprendi sobre o valor do trabalho com meus pais. Eu, que sou a filha mais nova, e meus três irmãos, nos criamos num mundo em que o trabalho não era apenas necessário para pagar as contas, adquirir casa própria, carro e bens de consumo. A gente tinha pouco disso tudo e ninguém ligava muito, porque tínhamos o suficiente para os livros e para a comida. Nosso pai nos ensinou com seu exemplo, mais do que com suas palavras, que o trabalho era a expressão de nosso ideal. Era a construção cotidiana de nossa marca singular na História.

Nosso trabalho era para nós. Mas só era para nós se, ao mesmo tempo, não fosse para nós. O trabalho de cada um só se cumpria se pudesse ser para o outro, se transformasse para melhor a comunidade, o mundo em que vivíamos. Não fosse isso, não seria um trabalho, seria um emprego. E, como empregados, não mais como trabalhadores, estaríamos alienados de nós mesmos, esvaziados de sentido e de propósito na vida, apartados de nossa criação no mundo.

Nunca fui filha, portanto, do individualismo, que vê no trabalho apenas uma forma de adquirir bens materiais e dinheiro para exercer seus próprios desejos. Meu desejo só se realiza se puder ser veículo do desejo do outro. Eu não “sou feliz e bem-sucedida” apenas realizando meus desejos. Sou feliz se o outro também puder realizar os seus. Minha vida não é apenas minha, ela está implicada com a do outro. E o outro não é a minha família, meus parentes de sangue, minha raça, meu grupo, os meus. O outro é a humanidade toda, que eu alcanço a partir da diversidade dos que estão mais perto de mim.

Lembro que, quando me tornei uma adolescente tão encantadora quanto insuportável, meu pai me pegou pelos ombros e disse, com aqueles olhos que refletem a alma da gente. “Você sabe quanto custa a um operário para você estudar?”. Eu não sabia, mas fiquei sabendo naquela hora que mesmo os trabalhadores que não conseguiam dar educação para seus filhos pagavam para que eu pudesse estudar. Ou não estudar, como eu fazia naquele momento. Muito diferente daqueles alunos de escola privada que, porque o pai paga a mensalidade, supõem ter o direito de desrespeitar o professor dizendo: “Você não pode fazer nada, porque sou eu que pago seu salário”.

Meu pai nos mostrava que nossa vida se ligava, de várias maneiras, à de todos os outros. Era ele que nos apontava os fios invisíveis que, querendo ou não, nos transformava em coletivo, plural. E me ensinou a acreditar e a sonhar. Os olhos dele sempre estavam – e estão – postos no horizonte. E sempre brilhando. Ele me mostrou que carregamos a largura do mundo dentro de nós. E não podemos esquecer disso. Quando as pequenezas do cotidiano ameaçam me engolir, eu olho para dentro. Não tenho tempo a perder com os ataques traiçoeiros dos pequenos poderes e grandes medos. Eu não pertenço à umbigolândia. Sou habitada, como todos que se sabem parte – não todo – pela vastidão do universo. Tenho em mim “a vertigem horizontal da planície”.

Todos nós já ouvimos um colega justificar sua infelicidade com o chefe que não permite que faça um bom trabalho, com a estrutura que não deixa espaço para ousar, com as sacanagens das quais é uma vítima recorrente. Se tivesse espaço, condições, tempo, ele faria um ótimo trabalho. Como não tem, só pode reclamar e buscar culpados. Se tudo fosse diferente, ele poderia ser diferente, poderia ser um profissional melhor, uma pessoa mais feliz.

Eu desconfio desse discurso. É sempre conveniente quando a responsabilidade é do outro, especialmente se esse outro tem um poder maior que o meu. A impotência esmaga, mas também justifica, nos exime de tomar uma atitude, de arriscar. É paradoxal, mas assim como a impotência arrasa, ela também tem seu lado de conforto. Se eu acredito que nada posso fazer, que sou um eterno injustiçado, então eu não preciso fazer nada nem explicar aos outros – e a mim mesmo – a razão e a tristeza da minha imobilidade.

Por outro lado, se tudo é verdade, se as condições são ruins, o chefe é um déspota e os colegas sabotadores, o que nos obriga a gastar a maior parte da nossa vida no inferno? Ou mesmo se não é totalmente insuportável, mas é o suficiente para nos impedir de criar, de nos expressar, de chegar mais perto de nós mesmos, qual é a razão para insistir? O salário, muitos dirão. Está difícil conseguir emprego, outros lembrarão. É verdade. Mas será que é toda a verdade? Tenho dúvidas.

Tento escapar dessas armadilhas. Assim como evito consumir meu tempo falando mal de um ou de outro. Às vezes, porém, caio nessas arapucas, me debato um pouco. Depois paro, encaro o silêncio, tento ouvir minha voz. Olho para dentro e lembro que sou aquilo que sonho. Minha expressão no mundo é determinada pela minha capacidade de sonhar – e de criar a partir dos meus sonhos. Espano as minhas dores e vou em busca de alguma fresta esquecidas nas tantas portas fechadas.

Por isso sou feliz no trabalho. Não trabalho apenas para ter um salário que me permita adquirir bens, nem trabalho para agradar um chefe. Ter um bom salário e um chefe satisfeito é o melhor cenário. E é importante. Mas meu horizonte está além. Não é circunstancial, nem estou a serviço de um projeto corporativo ou do projeto individual de um outro. O que tenho é um projeto de vida que, naquele momento, coincide com o de um superior, de uma empresa. Coincide, mas não está preso a ele. Acredito que todos ganham quando um projeto coletivo é construído não por escravos modernos e corporativos, mas por gente livre.

Nosso olhar sobre o mundo muda o mundo. Mesmo que seja um não-olhar, mesmo que seja uma falta. Se o seu olhar é vazio não é só a sua vida que se torna opaca, mas o que você poderia criar no mundo que se apaga antes de existir. O que somos e o que fazemos não é apenas uma profissão, um emprego, um meio de pagar as contas. É a expressão da singularidade de cada um de nós. É o nosso jeito único, intransferível e irrepetível de estar no mundo. E, com nosso trabalho, mudar o mundo e ser mudado por ele.

Quando você dá sentido ao seu trabalho, você não se deixa alienar. Seu trabalho não se torna algo separado de você, um produto que não é seu. Ao contrário. Ele é você, contém você, tem nele o seu desejo. Como expressão de sua passagem pelo mundo, seu trabalho lembra a cada dia de quem você é e do que realmente importa. Se isso não acontece, talvez seja hora de mudar. Não apenas de emprego, não somente o que está fora de você, mas algo um pouco mais profundo, bem mais fundo, mas que pode condenar ou libertar a sua vida.

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O texto acima, publicado na revista Época, é de autoria da brilhante jornalista Eliane Brum, que eu tive a honra de conhecer anos atrás num congresso de jornalistas escritores, em São Paulo. Mas poderia muito bem ser meu, pois concordo em número, gênero e grau com o conteúdo. Também venho de família humilde, do interior, cujo maior legado deixado pelo meu querido pai (que hoje está nos braços de Deus) foi a educação e a coragem para o trabalho.

Assim como a minha colega de profissão, também acredito que só somos capazes de fazer um trabalho bem feito, se estivermos felizes com as nossas atribuições. Eu, por exemplo, já mudei várias vezes de emprego e de profissão, até que anos atrás descobri minha verdadeira vocação: escrever. Desde então, me tornei a pessoa mais feliz e completa do mundo, profissionalmente. Sim, porque eu amo o que faço e adoro o meu emprego. Daí o fato de eu estar sempre sorrindo e e de bom humor, rindo da vida. Lógico que existem maus momentos, assim como existem pessoas "malas" que sempre atravessarão nossos caminhos. Mas quando isso acontece, me sinto mais preparada para lidar com a situação, tiro de letra. Essa é uma das grandes vantagens de ter amor à profssão e estar no emprego certo.



Pensamento do dia...


"O mistério da vida me causa a mais forte emoção.

É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência.

Se alguém não conhece essa sensação ou não pode mais exprimir espanto ou surpresa,

já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram."

(Albert Einstein)