quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Saia da rotina hoje


Hoje eu estava pensando com os meus botões; estamos sempre correndo atrás de alguma coisa: um amor, mais dinheiro no banco, um novo trabalho, reconhecimento no atual emprego, afazeres diários, educação dos filhos, dietas malucas, horas na academia pra depois desperdiçar tudo comendo aquela tão sonhada barra de chocolate, horas e mais horas de faculdade, mais umas horas pagando mico no curso de inglês, um tempinho (ou tempão) no computador, uma ida correndo ao cabelereiro ou médico (quando dá tempo, lógico), muito estresse no trânsito todos os dias, mais um tempo precioso fazendo aquela moçinha do telemarketing entender que você não quer comprar o novo produto que ela "vai estar demonstrando" pra você... etc, etc, etc....

Enfim, o dia tem 24 horas, levando-se em conta que temos de ter uma noite de sono de pelo menos umas 5 horas bem dormidas (sim, porque 8 é utopia né), considerando ainda uma agenda maluca dessas. Que hora nos sobra pra ser FELIZ???

Em que momento, nesse atribulado dia, você para pra contemplar o céu, por exemplo, ou tomar um picolé, contar uma piada, dar risada com o seu filho, levar o cachorro pra passear, andar descalço na grama, tomar sol, fazer amor, beijar na boca, comer um hot dog?

O fato, é que estamos cada dia mais ligados no 220 e menos em ter PAZ de espírito. Por isso, saia da rotina de vez em quando, viaje, contemple as estrelas, tome sol, vá à praia, converse com o vizinho, se jogue no sofá e assista a sessão da tarde, vá mais ao cinema, visite um museu, vá caminhar num parque, depois sente-se embaixo de uma árvore e medite um pouco, coma besteiras sem culpa, beba uma cerveja gelada com os amigos no fim do dia, como a tão sonhada barra de chocolate (mas com moderação, tá).

SEJA FELIZ AGORA. Porque ninguém sabe o que irá acontecer no momento seguinte.

CARPE DIEM!!!


Cabeça Ruim


Você, que sai para trabalhar todos os dias às oito e quinze em ponto e nem nota as florzinhas que caíram da velha árvore sobre seu carro durante a madrugada. Que desaprendeu a ouvir o vento e não reconhece mais o cheiro de chuva chegando. Que não tem nenhuma fotografia de nenhum amigo de infância.

Você, que cantou parabéns para seu avô calculando o quanto a festa tinha lhe custado. Que gostava de enrolar os dedos nos cabelos da sua mãe para dormir e hoje só dorme direito se estiver sozinho. Que já quis ter um dragão e não deixa seus filhos terem um cachorro.

Você, que puxou o tapete do seu colega de trabalho e depois foi chorar no banheiro, mais por raiva do que por remorso. Que não confessa para ninguém o que lhe dá medo de verdade, com medo da coisa acontecer. Que nem ficou sabendo que o bebê da vizinha já nasceu. Que não deixou sua filha ouvir o moço que tocava violino na rua, para não se atrasar na consulta com o médico. Que não se deu conta do quanto é parecido com seu pai.

Você, que nunca saiu de pijama na rua e não sabe o que é nadar pelado. Que entrava na casa da sua avó e sentia o aroma do pão assando e ia correndo beijá-la, louco de saudade e fome.

Você, que sabe o quanto seu funcionário caprichou no relatório, mas preferiu lembrá-lo dos itens que faltaram. Que veste um sorriso diferente conforme a roupa do freguês. Que não gosta que seus filhos brinquem descalços.

Você, que nunca levou um gatinho para casa e implorou aos seus pais para ficar com ele. Que nunca apertou a campainha e saiu correndo. Que não tira o relógio e nunca tem tempo. Que não percebeu que derrubaram o ipê amarelo da sua rua. Que sonhava em ver um show dos Beatles e hoje nem liga para a coleção deles bem ali, na sua estante.

Você, que nunca andou na contramão. Que não espera seu filho tentar amarrar o sapato sozinho e já vai amarrando por ele. Que não perdia um dia de Vila Sésamo e que hoje se irrita com tudo na TV que não seja noticiário.

Você, que vê o olhar do cão faminto e engole o último pedaço do salgadinho. Que vai de carro a dois quarteirões da sua casa e acha isso normal. Que cruzou com a empregada hoje cedo na cozinha, disse bom dia mas não até amanhã. Que se irrita sempre com o motorista da frente. E com o do lado. E com o de trás também.

Você, que tem barco, mas não tem amigo de verdade. Que quando criança queria viajar numa nave espacial, e hoje diz para seu sobrinho de quatro anos que essas coisas não existem.

Você, que não tem ninguém lhe esperando em casa.

É com você mesmo que eu estou falando. Eu tenho três notícias. A primeira é que seu pé não é doente. A segunda é que sua cabeça é que é ruim. A terceira é que tudo nesta vida tem conserto.

Autora: Silmara Franco


Pensamento do dia...

Espetacular o texto abaixo, que recebi da minha amiga Marina Bueno. Digamos que eu estou a meio passo de fazer o mesmo.


Faz de conta: você acordou, ligou para o salão e marcou um horário. Na hora do almoço, foi lá e pediu: Corta bem curto. O cabeleireiro não acreditou no que ouvia. Afinal, seus quase cinquenta centímetros de cabelo sempre foram, na sua cabeça (literalmente), uma espécie de atestado da sua feminilidade. Mas agora eles teriam de ser curtos. Para que suas ideias ficassem longas. Ele colocou a mão um pouco abaixo do seu ombro: Mais ou menos aqui? Você segurou a mão dele, levou-a na altura da sua orelha, e disse: Tosa.

Depois você passou naquela loja onde tem uns vestidos moderninhos e coloridos. Você entrou e pediu aquele cor de laranja com borboletas, muito mais curto do que os que você costuma usar. Aproveitou e pediu a sapatilha da vitrine. Arrancou o seu terninho bege, sua camisa branca e seu escarpim marrom. Deixou tudo por lá mesmo, no provador. E quando a vendedora perguntou o que fazer com aquilo, você disse: Queima.

Quando você retornou ao trabalho, uma hora depois do horário de costume, com aquele vestidinho e com os cabelos daquele jeito, a roda em torno de você foi se formando. Uns, animadíssimos. Outros, nem tanto. Alguns reprovaram. Como as coisas já não andavam muito bem por ali, sua chefe lhe chamou no final do dia para conversar, e avisou que as coisas não poderiam continuar daquele jeito, ou ela teria que substituir você. E você disse: Substitui.

Saindo de lá deu vontade de jantar naquele bistrô aonde você acha que só deveria ir no dia do seu aniversário ou outra data importante. Você mal encostou seu carro e já veio o dono da rua, dizendo que eram dez pratas para parar ali. E, como você não deu bola, o homem começou aquela conversinha surrada dizendo, na entrelinha da entrelinha, que um eventual não-pagamento antecipado incorreria em riscos indesejáveis na pintura do seu bólido. Você pegou o celular, digitou três números, mostrou o visor para o homem e, já com o dedo na tecla “ligar”, disse: Risca.

Faz de conta que você chegou em casa e sua filha de dezessete anos estava na sala com o namorado. Você teve que contar de novo a história daquele vestido e daquele cabelo e, como chovia, sua filha sondou se o rapaz poderia dormir ali. E, enquanto jogava no lixo aquela agendinha que você só usava no trabalho, você disse: Pode.

Quando se deitou para dormir, aquele anjo que costuma vir conversar com você antes do sono se empoleirou na cabeceira da sua cama. Elogiou o cabelo, o vestido, a decisão no trabalho, o presente de não-aniversário, o chega-pra-lá no dono da rua, a atitude com a filha. Só por curiosidade, perguntou que bicho havia mordido você. E você, se ajeitando no travesseiro e já desligando o abajur, disse: Nenhum.

No dia seguinte, vendo que eram dez da manhã e você ainda não havia se levantado, sua filha entrou no quarto, vocês conversaram e no final ela perguntou como é que vocês viveriam dali para frente. Com certa ironia, ela arriscou dizer que com as bolsas e os badulaques que você produzia e vendia nos finais de semana é que não seria. E você disse: Sim.

À tarde, você procurou o dono daquele galpão que você havia visto para alugar, perfeito para uma oficina, e fez uma oferta. O homem coçou a cabeça, pediu um pouquinho mais, e você disse: Fechado.

À noitinha, você foi até a casa dos seus avós, assim, de surpresa. E, de surpresa, você os beijou. E quando eles perguntaram o que era aquilo, você disse: Amor.

Faz de conta que foi assim. Faz de conta que foi desse jeito que você virou a mesa. Que resolveu não perder mais tempo, fazer o que gosta e ser do jeito que você, só você, acha que fica mais bonita.

Faz de conta que você morreu. E que alguém lhe deu a oportunidade de voltar para um terceiro tempo.

Então. Agora vai lá e faz tudo de verdade.


Autora: Silmara Franco