terça-feira, 9 de junho de 2009

O que não me mata, me alimenta

Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo. Passeio pelo escuro e como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora, eu quero chegar antes pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus. O Intuito é retratar a dor, alegria, angústia, depressão, trasntornos diversos, felicidade, raiva, ódio, remorso… enfim, sentimentos vividos, às vezes expressados outras vezes escondidos.


“O que não me mata, me alimenta.”

A célebre frase é de Frida Kahlo (1907-1954), artista mexicana que realizou principalmente autorretratos, nos quais utilizava uma fantasia e um estilo inspirados na arte popular de seu pais. Marcada por um trágico acidente aos 18 anos e por uma vida inteira de sofrimentos físicos, Frida conseguiu ser, ainda assim, a grande pintora mexicana do século XX. Os seus quadros representam fundamentalmente a sua experiência pessoal, em particular os aspectos dolorosos da sua vida que foi em grande parte passada na cama.

Trágica, apaixonada e genial, Frida sintetiza a alma feminina da América Latina. Forjou na própria carne a força visceral que a levou a fazer da dor a mais preciosa arma para continuar a viver. Seu corpo foi o palco e o pacto para os prazeres mais secretos e a agonia mais lancinante. Talvez, por isso, sua obra expresse esta passionalidade tão comum à alma das mulheres que encarnam uma Vênus plutônica. Vejamos, agora, quais foram os principais desafios que sofreu sob o ponto de vista da saúde e as conseqüências disto na sua trajetória feminina, observando também as efemérides planetárias que acompanhavam estes acontecimentos.

Aos seis anos (1913) foi vítima de poliomielite. Apesar de nove meses exercitando-se regulamente, o resultado foi uma sequela na perna direita, que se tornou bem mais curta e delgada do que a outra, e um pé atrofiado… Na escola, os coleguinhas, ratificando a inata crueldade infantil, apelidaram-na de “Frida, perna de pau”. Desde cedo, a vaidade leonina começou a receber duros golpes…

Mas parece que a alma de Frida tinha marcado um encontro especial com o destino, aos 18 anos. Ao voltar da escola, no dia 17 de setembro de 1925, sofreu um trágico acidente a bordo de um tranvía (mistura de ônibus com bonde) que resultou em inúmeras fraturas (11 somente na perna direita), um defloramento por uma barra de ferro que lhe atravessa o quadril, uma sucessão de trinta operações e intermináveis períodos de convalescença. Mais tarde, escreveria em seu diário: “e a sensação nunca mais me deixou, de que meu corpo carrega, em si, todas as chagas do mundo”.



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