segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Feliz da vida


Enquanto eu fazia as unhas e arrumava as madeixas no salão, neste fim de semana, li uma reportagem bem interessante sobre "ser feliz". Pesquisa realizada em 178 países aponta, novamente, que as pessoas mais felizes estão na Dinamarca.


A questão é a seguinte: como um país onde anoitece todos os dias por volta das 17hoo, durante metade do ano, com temperaturas baixas quase o ano todo, e onde a carga trbutária paga ao governo varia entre 60% a 80%, pode ter o povo mais feliz???

O segredo pode estar nas linhas abaixo.

Segredos da felicidade

Novos estudos comprovam: a satisfação com a vida depende muito mais do bom relacionamento com a família e os amigos, trabalho prazeroso e saúde em dia do que das alegrias geradas pelos bens materiais

A Dinamarca é um país com 43 mil quilômetros quadrados – área similar à do Estado do Rio de Janeiro – onde 5,4 milhões de pessoas compartilham um Produto Interno Bruto de US$ 187 bilhões. No Brasil, uma população 35 vezes superior colhe as migalhas de um PIB três vezes maior. Dona de um sistema educacional irrepreensível e de um eficiente modelo de saúde, a Dinamarca lidera o ranking mundial da felicidade criado pelo psicólogo Adrian White, da Universidade de Leicester, na Grã-Bretanha. O Brasil é o 81º. Para estabelecer essa lista, ele avaliou 100 estudos de 178 nações. “A saúde foi apontada como o fator mais importante para a felicidade, seguida por prosperidade e acesso à educação”, diz.

Atrelar a felicidade ao desenvolvimento do país ou à renda per capita, porém, é uma prática que não dá conta da complexidade do tema. É a conclusão de muitos especialistas, como o economista alemão Johannes Hirata. Ele comparou a renda e o índice de bem-estar de diversas populações para a tese Felicidade como um objetivo político, apresentada recentemente na Universidade de St. Gallen (Suíça), e afirma que a economia pouco interfere na felicidade. No Japão, apesar de a renda média ter passado de US$ 880 para US$ 25 mil anuais em 50 anos, o grau de satisfação com a vida permaneceu estável.

Mas o que, afinal, gera a felicidade? Essa pergunta tem chamado a atenção de especialistas de um movimento da psicologia que tem se fortalecido na última década. É a psicologia positiva. Análises sobre o conceito de bem-estar subjetivo – ou pessoal – se tornaram o objeto principal de estudos desse grupo. Entre seus representantes está Martin Seligman, que defende que os psicólogos não devem apenas se preocupar com as doenças, e sim tornar ainda melhor a vida de gente saudável. Desde o lançamento de Felicidade autêntica, suas idéias se espalham pelo mundo.

No Brasil, a psicologia positiva conquista adeptos. Um dos primeiros trabalhos acadêmicos do gênero é a tese de doutorado de Lilian Graziano, da Universidade de São Paulo. Em A felicidade revisitada, ela constata a relação entre o estado de satisfação e a capacidade de se sentir no controle da vida. Segundo Lilian, há dois tipos de pessoas: aquelas para as quais as coisas só mudam por influências externas e as que se sentem responsáveis pelas mudanças. Na escola, o primeiro grupo seria formado por alunos que agradecem à professora pela nota e o segundo pelos que se sentem responsáveis por ela. “O primeiro perfil é menos feliz do que o segundo. Costuma adiar a felicidade para quando o trânsito ou o chefe melhorarem”, diz.

Receitas para a felicidade há muitas. Mesmo porque até hoje não há consenso quanto ao que traz mais alegria. Pesquisas feitas em diversos países oferecem elementos que podem nortear essa busca. Confira a seguir alguns caminhos.


Invista nas relações

Professor da Universidade da Virgínia (EUA), Jonathan Haidt escreveu em seu livro The happiness hypothesis que a família e os amigos são mais relevantes do que o dinheiro e a beleza. “Uma condição que nos torna felizes é a capacidade de nos relacionarmos e estabelecermos laços com os demais”, afirma. Todo ser humano necessita do outro para compartilhar sensações, experiências e objetivos. Sentir-se responsável por uma pessoa pode ser a chave da realização. Isso vale para o casamento e para as amizades. Um estudo do Centro de Pesquisa em Opinião Pública da Universidade de Chicago mostrou que pessoas com pelo menos cinco amigos próximos se dizem 50% mais felizes do que as que têm um círculo social menor.


Tenha um projeto

Postergar a felicidade é um erro grave, segundo o psicólogo Ari Rehfeld, da PUC de São Paulo. Quem faz isso nunca será feliz porque o mundo jamais será o país das maravilhas. Rehfeld considera fundamental conciliar projeto de vida e satisfação com o presente. “Projeto é algo que exige tempo. Não deve ser confundido com desejo, que é efêmero”, compara. Para a filósofa Dulce Critelli, confundir felicidade com desejo é um escorregão herdado do estoicismo e do epicurismo, as primeiras escolas filosóficas a pensar a moral de forma individual. Desde então, muitas pessoas acreditam que a felicidade está na satisfação do prazer. “Por isso, a roupa de grife, a cirurgia plástica e o carro do ano são tão valorizados. Antes, admirávamos pessoas honradas e generosas.”


Cuide de saúde

Estar de bem com o corpo e a mente é outro elemento comum às pessoas felizes. É difícil estabelecer uma relação de causa e efeito. Não se sabe se a boa saúde ajuda as pessoas a se sentirem plenas ou se é a felicidade que traz saúde às pessoas. “Os mais felizes tendem a se cuidar mais, a comer melhor e a se exercitar”, diz o estatístico Jorge Orishi, que criou na Universidade Federal de São Carlos o primeiro mapa da felicidade em São Paulo. Com seis mil entrevistas, ele descobriu que os paulistas não se queixam da vida como parece: 59% se dizem felizes e 25% muito felizes.


Trabalhe com prazer

De acordo com o psicólogo Wanderley Codo, da Universidade de Brasília, o trabalho toma a maior parte do dia e influencia nos relacionamentos. “Não existe limite entre vida profissional e vida pessoal. Ninguém briga com o chefe e chega sorrindo em casa nem discute com a esposa e vai feliz ao escritório”, afirma. Para ele, ter uma atividade profissional que dê sentido à vida ajuda na busca pela realização. Se a atividade principal não cumprir essa lacuna, melhor tentar um trabalho voluntário ou manter alguma produção paralela.


Não perca a fé

Dar um sentido para a vida é importante, mesmo que seja em um plano superior. Pessoas que têm alguma religião não apenas vivem por mais tempo como se sentem mais felizes do que os agnósticos e ateus. O motivo pode estar no fato de pertencer a um grupo, na serenidade experimentada nos momentos de oração e também na crença de que os obstáculos vividos são etapas no caminho para a realização. “A religião dá a esperança de que tudo vai melhorar, mesmo que seja após a morte. Ela conforta”, explica o cientista da religião Frank Usarski, da PUC de São Paulo.


Não exija tanto

Autor do best-seller Sucesso é ser feliz, o psiquiatra Roberto Shinyashiki sabe o quanto a eterna busca representa para as pessoas, mas se preocupa com o que ele chama de ditadura da felicidade. “O mundo exige que as pessoas estejam permanentemente alegres e, por isso, ele se tornou o paraíso das drogas e do Prozac”, observa. Para Shinyashiki, está mais satisfeito quem entende os altos e baixos da vida. “Ninguém é plenamente feliz com o trabalho nem tem orgasmos múltiplos todos os dias. O importante é ouvir a própria consciência em vez de buscar os aplausos dos outros”, ensina. Ele, por exemplo, se sente feliz quando chega em casa e os filhos pulam em seu pescoço e quando toca guitarra com os amigos. Valorizar as pequenas coisas pode ser um bom começo, assim como ser coerente com o projeto de futuro. Vale a pena tentar.

Fonte: Revistas Elle e IstoÉ


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