quarta-feira, 13 de maio de 2009

Perdoar...

Por que é tão difícil perdoar? Você já se perguntou isso? 

Eu já, e muitas vezes. Sabemos, como nenhum outro animal, magoar o nosso semelhante. Somos, muitas e muitas vezes, ingratos e desrespeitosos, falamos coisas que ferem e agridem àqueles que nos rodeiam. Algumas vezes, reconhecemos nosso erro e formalizamos um simples pedido de desculpas (nem sempre de perdão), os mais civilizados, é claro, porque é comum dar as costas ao ser ofendido e fingir que nada aconteceu.  

Por outro lado, quando somos ofendidos, temos uma grande dificuldade em ouvir e aceitar as desculpas de quem nos magoou. Somos incapazes, na maioria dos casos, de abrir a mente e o coração para o outro. Arrumamos todo tipo de justificativa para isso, dizemos que fomos humilhados, ofendidos e, até mesmo, feridos de morte. E procuramos o caminho mais fácil para se livrar da dor: o esquecimento.  

Ao adotar esse tipo de postura, não nos damos conta de que estamos prejudicando ainda mais nossa integridade física e mental, já que esquecer nem sempre é o remédio certo para curar a mágoa. Perdoar, sim, é o caminho para alcançar a cura interna. O perdão pode não mudar o passado, mas certamente ajudará a construir um futuro mais leve, sem tantas neuroses. 

Segundo o dicionário Michaelis), a palavra perdão significa “conceder perdão, absorver, remitir (culpa, dívida, pena, etc), desculpar e poupar-se”. Sim! O ato de perdoar envolve tudo isso e ainda muito mais. Pesquisas e estudos vêm sendo desenvolvidos nesses últimos anos para mostrar e comprovar o poder e os benefícios do perdão.

Pesquisas e estudos vêm comprovando os benefícios, tanto mentais quanto físicos, do ato de perdoar. Porém, não é justo dizer que somente agora o mundo está se dando conta do poder do perdão. No aspecto científico, talvez, mas crença e religiões já pregam a importância do perdão há muitos e muitos anos, principalmente como um ato importante para a saúde do espírito.

No ano passado, o Hope College, em Michigan, EUA, realizou uma experiência com 71 voluntários. Nela, foi pedido a eles que se lembrassem de alguma ferida antiga, algo que os tivesse feito sofrer. Nesse instante, foi registrado o aumento da pressão sanguínea, dos batimentos cardíacos e da tensão muscular, reações idênticas às que ocorrem quando as pessoas sentem raiva. E quando foi pedido que eles se imaginassem entendendo e perdoando as pessoas que lhes haviam feito mal, eles se mostraram mais calmos, e com pressão e batimentos menores.

A questão principal, porém, é que o ato de perdoar não é uma das tarefas mais fáceis para nós, seres humanos. Tribos, sociedades, países, famílias e amigos já travaram e ainda travam batalhas, e verdadeiras guerras, por causa de diferenças entre as pessoas, ou devido a algum ato que desagradasse ou prejudicasse, espalhando pelo mundo ainda mais rancor e nem um pouco de paz. Mas o perdão não é impossível, nem mesmo nos casos mais graves, como vem tentando comprovar o Dr. Fred Luskin, autor de O Poder do Perdão e especialista em aconselhamento clínico e psicologia da saúde pela universidade de Stanford. 

Após ter sido muito magoado por um grande amigo, Luskin conseguiu, sozinho, achar uma forma de perdoar-lhe, e quis investigar se a sua técnica funcionaria com outras pessoas em casos semelhantes ou em casos mais graves. E desde então, deu início a suas pesquisas.

Em 1999, ele criou o projeto da Universidade de Stanford para o Perdão, tendo combinado em sua pesquisa dissertativa uma técnica psicoterapêutica, focada na emotividade racional, com alguns estudos sobre o impacto das emoções negativas, como raiva, magoa e ressentimento no sistema cardíaco.  

Suas técnicas foram aplicadas em várias experiências, sendo uma delas com dois grupos de pessoas que foram atingidas pelos conflitos entre protestantes e católicos, na Irlanda: um grupo, de mães que tiveram seus filhos mortos; outro, de homens e mulheres que perderam algum parente. Para esse projeto, Luskin contou com a cooperação de Carl Thoreses, PhD em Psicologia, e contou com o apoio de uma militante irlandesa que há trinta anos trabalha pela paz em seu país.

Os participantes foram separados em grupos experimentais e supervisionados, e passaram seis semanas tendo aulas sobre as técnicas de perdão de Luskin. Os primeiros resultados, segundo Thoresen, indicaram que os participantes apresentavam redução do nível de estresse, viam-se menos irados e mais confiantes de que, no futuro, eles perdoariam mais e mais facilmente. Além disso, o estudo mostrou que o perdão pode promover uma melhora na saúde física, pois esse grupo de pessoas apresentou uma diminuição significante em sintomas como dores no peito, na coluna, náuseas, dores de cabeça, insônia e perda de apetite. 

Luskin e Thoresen afirmam que essa melhora psicológica e física persiste por pelo menos quatro meses; em alguns casos, ao longo desses quatro meses, a melhora continua a progredir.   Luskin descreve o perdão como sendo uma forma de se atingir a calma e a paz, tanto com o outro quanto consigo mesmo. A terapia que ele propõe encoraja as pessoas a terem maior responsabilidade sobre suas emoções e ações, e serem mais realistas sobre os desafios e quedas de suas vidas.

Em O Poder do Perdão, ele explica o processo de formação de uma mágoa e demonstra como tal fato possui um efeito paralisante na vida das pessoas, baseando suas afirmações em investigações e pesquisas, principalmente em seu Projeto da Universidade de Stanford para o Perdão. Por meio de nove etapas, o autor ensina a sua técnica de perdão.


OS NOVE PASSOS DO PERDÃO - Segundo Fred Luskin 

1. Saiba exatamente como você se sente sobre o que ocorreu e seja capaz de expressar o que há de errado na situação. Então, relate a sua experiência a umas duas pessoas de confiança; 

2. Compromete-se consigo mesmo a fazer o que for preciso para se sentir melhor. O ato de perdoar é para você e ninguém mais. Ninguém mais precisa saber sua decisão; 

3. Entenda seu objetivo. Perdoar não significa necessariamente reconciliar-se com a pessoa que o perturbou, nem se tornar cúmplice dela. O que você procura é paz; 

4. Tenha uma perspectiva correta dos acontecimentos. Reconheça que o seu aborrecimento vem dos sentimentos negativos e desconforto físico de que você sofra agora, e não daquilo que o ofendeu ou agrediu há dois minutos ou há dez anos; 

5. No momento em que você se sentir aflito, pratique técnicas de controle de estresse para atenuar os mecanismos de seu corpo; 

6. Desista de esperar, de outras pessoas ou de sua vida, por coisas que não escolheram dar a você. Reconheça as “regras não cobráveis” que você tem para sua saúde ou para o seu comportamento e dos outros. Lembre a si mesmo que você pode esperar saúde, amizade e prosperidade e se esforçar para consegui-los. Porém, você sofrerá se exigir que essas coisas aconteçam quando você não tem o pode de fazê-las acontecer; 

7. Coloque sua energia em tentar alcançar seus objetivos positivos por um meio que não seja o de experiências que o feriram. Em vez de reprisar mentalmente sua mágoa, procure outros caminhos para seus fins; 

8. Lembre-se de que uma vida bem vivida é a sua melhor vingança. Em vez de se concentrar nas suas mágoas – o que daria poder sobre você à pessoa que o magoou – aprenda a buscar o amor, a beleza e a bondade ao seu redor; 

9. Modifique a sua história de ressentimento de forma que ela o lembre da escolha heróica que é perdoar. Passe de vítima a herói na história que você contar.


O Poder do Perdão 
Dr. Fred Luskin 
W11 Editores
Site: www.learningtoforgive.com  
(Fonte: Revista Sexto Sentido)



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