segunda-feira, 29 de março de 2010

Cirurgia Bariátrica - Sim ou Não?

Uma coisa que me deixa indignada é a maneira superficial como muitas matérias, em especial na TV, abordam questões relacionadas à saúde. Um bom exemplo é a tal da cirurgia bariátrica (redução do estômago), que parece estar virando febre no Brasil. A maioria dos programas aborda o antes e o depois mostrando apenas o resultado visível, ou seja, como a pessoa passou de 120, 130 quilos para 60 ou 70, por exemplo. Mas deixam de lado o mais importante de todo o processo: o esquema de alimentação e o acompanhamento psicológico que o paciente deve ter antes e depois da cirurgia.

O procedimento é considerado de médio a alto risco, particularmente em doentes super obesos e com comorbidades cardiorrespiratórias, segundo explica o Dr. Pedro Luiz Bertevello, cirurgião do aparelho digestivo especializado em cirurgia bariátrica.

No Brasil existem cerca de 70 milhões de indivíduos acima do peso, o dobro do que havia há três décadas, segundo dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, e destes, 18 milhões são considerados obesos. Para muitos, a única solução para evitar a obesidade mórbida, considerada pelos médicos doença grave, com risco de morte, é ou será a cirurgia bariátrica. Somente por meio do SUS, foram 1.813 procedimentos em 2003, cerca de 2 mil em 2004 e 2.266 em 2005.

Na rede privada, o crescimento é ainda maior, colocando o Brasil como o segundo país do mundo na realização deste tipo de cirurgia, ficando atrás, apenas, dos Estados Unidos, conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCB).

Mas a cirurgia bariátrica é apenas o começo de outra luta. Devido à alta complexidade do procedimento, diversos profissionais devem trabalhar em conjunto antes, durante e depois da intervenção. De acordo com a nutricionista Luciana Coppini, da equipe do Ganep - Grupo de Nutrição Humana, o perfeito entrosamento da equipe multidisciplinar, formada por médico cirurgião, gastroenterologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e fonoaudiólogo, entre outros, é parte fundamental no sucesso da cirurgia.

Segundo a nutricionista, os cuidados devem começar muito antes da cirurgia. Consultas ao médico, nutricionista e psicólogo são fundamentais. "As modificações na alimentação e no estilo de vida do paciente devem começar numa fase bem anterior, para que ele tenha tempo de se habituar à nova rotina que será imposta depois da redução", alerta Coppini. Algumas destas mudanças referem-se aos hábitos alimentares. "O paciente precisará comer devagar, mastigar bem, reduzir os intervalos entre as refeições e saber selecionar os alimentos. Estas mudanças estão diretamente relacionadas ao sucesso da cirurgia", explica.

Outro problema facilmente contornável com acompanhamento nutricional é a desnutrição. Sob supervisão de nutricionista será possível garantir que todas as necessidades do paciente sejam supridas por meio da alimentação ou suplementos específicos. "A maneira de pensar também precisa sofrer transformação. O estômago agora estará bastante reduzido e não haverá espaço para tudo aquilo que ele sentir vontade de comer", lembra o Dr. Bertevello.

"Em muitos casos, anos após a cirurgia o paciente ainda não está acostumado à nova condição física e acaba exagerando na comida", alerta Luciana. "É necessária muita disciplina e respeito às orientações dos especialistas, pois a cirurgia não é um passe de mágica. Sem os cuidados necessários o paciente pode até mesmo voltar a engordar."


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