terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Anos Rebeldes


Eu era bem pequena nos anos 70, mas me lembro com saudade de muitas coisas daquela época, principalmente das músicas e do colorido. Recordo das minhas irmãs, já mocinhas, ajeitando as perucas (sim, porque naquela época o acessório era um luxo) e vestindo seus microvestidos coloridos e as botas de cano longo, e do meu irmão, com suas inseparáveis calças boca-de-sino e suas costeletas. Acho que as pessoas eram mais felizes quando o movimento "Paz e Amor", idealizado pelos hippies, dominava o mundo.

A década dos "malucos beleza" começou quando os Beatles acabaram, no rescaldo do fim do sonho hippie. E terminou logo após o punk anunciar o fim do mundo como o conhecíamos. Nesse intervalo, os anos 70 trouxeram a efervescência da era da discoteca, os filmes de catástrofe, o início da hegemonia do cinema hollywoodiano para adolescentes, os primeiros passos do hip-hop e da música eletrônica, o auge e a morte do rock progressivo, além de um vestuário que deu uma identidade toda particular para a época. Foram fatos, movimentos e estéticas que ajudaram a enterrar definitivamente as ilusões da década de 60 e a lançar as bases do que seria a vida a partir dos anos 80.

Foi uma década em que o mundo vivenciou a derrocada norte-americana no Vietnã, o escândalo político de Watergate, o surgimento do movimento punk, a crise do petróleo e a ascensão de um pensamento econômico ultraliberal. No Brasil, passava-se dos anos mais repressivos da ditadura militar para o início do processo de abertura política. Por conta da censura e do regime autoritário, muitas das transformações culturais e comportamentais daqueles anos não foram completamente vivenciadas por aqui naquele momento.

Mas tanto aqui como lá fora, as roupas, as artes e o comportamento jovem mudaram radicalmente ao longo dos anos 70. A herança sessentista deu o tom nos primeiros anos, no visual e no comportamento hippie e nas artes psicodélicas. No final da década, partes significativas da juventude tinham aderido ao modo de ser soturno e agressivo do punk ou ao estilo colorido, descompromissado e hedonista na onda da discoteca e da música pop.


Do idealismo ao pragmatismo

Os anos 70 trouxeram uma mudança radical no comportamento jovem. Em uma década, ele foi da esperança à desilusão, do engajamento ao descompromisso. O que começou com protestos contra a Guerra do Vietnã, com lutas contra os regimes autoritários na América Latina e outros embates ideológicos terminou no niilismo e no desencanto do punk ou num crescente hedonismo que daria o tom nas décadas seguintes. Ao final daqueles anos, quase nada da cultura hippie, da paz e amor do “flower power” havia sobrevivido. Aquela contracultura idealista e pacifista, por exemplo, havia sido substituída por uma outra agressiva e pragmática.

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