quinta-feira, 14 de maio de 2009

O mau jornalismo de hoje em dia...


Há muito tempo o jornalismo deixou de ser arte. Antigamente, os profissionais iam parar nas redações muito mais por amor ao ofício de escrever do que, propriamente, como uma forma de sobreviver. Naquela época, era comum encontrar entre os jornalistas, professores, advogados, filósofos, escritores, entre tantas outras profissões nobres.

A matéria era apurada ao extremo, não existiam as assessorias de imprensa que hoje facilitam, até demais, o trabalho dos jornais, lotando suas caixas de correio com inúmeras sugestões de pauta. As informações chegavam por meio de fontes de total confiança dos jornalistas, que as protegiam, muitas vezes, com a própria vida.

Os jornalistas da antiga eram investigadores, saiam às ruas levando apenas o faro e caneta e papel. Sim, porque os gravadores só vieram bem mais tarde; celular, então... Era da sua apuração que saía a matéria; do seu potencial de observar, ouvir e enxergar o que os outros não percebiam.

Mostrar a cara não tinha problema para o jornalista da antiga. Como diz o dito popular ele "matava a cobra e mostrava o pau". Participava mais ativamente das discussões, não fica à margem, como hoje em dia. Por isso, era mais respeitado.

Mas a globalização mudou a forma de fazer jornalismo. Hoje, a velocidade da informação é assustadora. O que era novidade no jornal impresso, pela manhã, vira notícia velha na internet. Não há mais tempo viável para apurar os fatos. Tudo é pra ontem. As fontes sumiram, as assessorias surgiram com força total e as faculdades não param de descarregar profissionais do meio nas ruas.

Se por um lado o mundo hoje gera muito mais notícia, com seus inúmeros escândalos, guerras e afins, por outro, a imprensa também mudou, e pra pior. É fato, não dá mais pra negar! As grandes reportagens estão minguando. Hoje, se você sobe o morro para apurar uma notícia, é assassinado, como aconteceu ao jornalista Tim Lopes e a tantos outros menos famosos.

É uma pena, porque há tanto para se falar. O mundo não é só feito de guerras e escândalos. Há também cultura, lazer, arte, amor, ciência, história, etc... Assuntos que, na maioria das vezes, ficam condicionados às últimas páginas dos jornais.

Gostaria muito de ter vivido nos tempos áureos das grandes reportagens, dos grandes jornalistas. Como eu queria ter lido a Manchete, assistido a Tv Tupi, ou ouvido o Repórter Esso. Disso tudo, sei muito pouco, apenas o que contam os acervos ou as pessoas mais velhas.

Diante dessa triste constatação, vem uma pergunta que não cala: O que será de nós, jornalistas do século 21? Vamos sobreviver a tudo isso ou vamos sucumbir à comercialização da notícia? Alguém me diga, please...

A respeito desse tema, o jornalista Carlos Brickmann escreveu em seu blog no Observatório da Imprensa:

Onde estamos?

A notícia mereceu algum destaque, mais por ser estranha do que por qualquer outro motivo: "Menino de 12 anos é preso pela 11ª vez ao furtar carro". Saíram matérias bem completinhas: os pais explicam que não conseguem controlar o garoto, os vizinhos dizem que ele sempre aparece com carros na rua, o promotor da Vara de Infância e da Juventude assegura que a única saída é a internação. "Precisamos contê-lo. Ele vai continuar assim até alguém matá-lo." As onze prisões ocorreram num período de 18 meses – desde que ele tinha pouco mais de 10 anos.Aí as reportagens começam a ratear.

Não ocorreu perguntar ao promotor da Vara da Infância e da Juventude por que, se a saída é essa, não mandou internar o garoto. Ninguém foi entrevistar o delegado de plantão que, depois de receber o menino em seu distrito policial, devolveu-o na mesma noite à mãe, em vez de levá-lo ao CASA, órgão que substituiu a Febem, porque o Fórum já estava fechado. Ninguém, de nenhum meio de comunicação, foi perguntar às autoridades responsáveis pela infância e adolescência como é que se resolve o problema das internações, já que o Fórum fecha à noite e é à noite que ocorre a maior parte das infrações.

Será que aguardam o garoto ser morto e a questão se resolver sozinha
?


Ler e pensar

A opinião é de Gay Talese, um dos grandes jornalistas americanos (e autor do monumental O Reino e o Poder, uma história do The New York Times), numa bela entrevista a O Estado de S.Paulo: "Os jornalistas são hoje mais bem preparados que os de minha geração. Mas há o lado negativo. Há uma nova intimidade entre o mundo do governo, o mundo corporativo e o poder da imprensa. Acho que os jornais, principalmente o The New York Times, cobrem governo demais e não o país que não vive perto do governo".


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