Ainda falando sobre dependência afetiva, encontrei um texto bem interessante, da psicóloga Sirley Bittú. Segundo ela, há pessoas que se arrepiam só com a possibilidade de ficar dependente de alguém ou alguma coisa, passam a vida lutando contra isso, e algumas vezes tornam-se onipotentes, distantes e sós. E há pessoas que tremem apenas com a ideia de dependerem principalmente de si mesmo; confundem individualidade com solidão, abandono e rejeição. São as duas faces da mesma moeda, os primeiros temem se envolver e perder a individualidade e o outro extremo teme tê-la. Na verdade, ambos acreditam que a autonomia e a capacidade de cuidar de si, tomar as próprias decisões, fazer escolhas, está fora de seu controle, ou melhor, fora de si.
A DEPENDÊNCIA AFETIVA é um estado de imaturidade que faz parte do processo natural de desenvolvimento humano, ou seja, nascemos totalmente dependentes, tanto física como afetivamente. Com nossas vivências e experiências vamos evoluindo de forma gradativa buscando nossa independência emocional.
Algumas vezes temos clareza de nossas dificuldades, então nos restam, pelo menos, duas saídas: enfrentá-las e superá-las ou, como costumo dizer, dar a volta no quarteirão. Mas nem sempre a dependência afetiva é consciente.
Uma pessoa é dependente afetivamente quando sua autonomia está prejudicada, ela precisa de algo ou alguém para sentir-se segura e tranquila, nas mais diferentes decisões em sua vida, desde as mais simples como decidir que roupa vai usar, por exemplo, ou até as mais difíceis, como que profissão escolher... se muda de emprego ou não... se continua namorando ou não, se casa ou não... enfim, inúmeras situações onde está implícita uma escolha.
Você que está lendo, deve estar se perguntando: ...mas todos nós não gostamos de uma opiniãozinha às vezes? Sim, é verdade, pedir a opinião de alguém sobre algo não o torna dependente afetivo. A diferença está quando você depende realmente dessa opinião e não consegue seguir o seu desejo se ele não for aprovado, se não houver o aval de alguém.
O objeto de dependência entra na vida da pessoa como uma muleta, ocupa um espaço vazio. A dependência pode ser de uma pessoa específica, uma droga, uma atitude de carinho, uma palavra amiga, ou mesmo de alguém que lhe possa ouvir ou dizer o que se deve fazer.
Na verdade, essas pessoas ou objetos têm uma única função para o dependente afetivo: dar a sensação de segurança que ele precisa para suportar problemas, tensões e dificuldades pessoais e/ou sociais. A questão é que a segurança não está nas relações que fazemos, não é algo que vem de fora, mas sim algo que existe ou não dentro de nós. Nossa segurança e autoestima são os reguladores de nossa maturidade emocional.
Jacob Levy Moreno, quando criou o Psicodrama, partia do princípio que o ser humano é um ser social, influencia e é influenciado todo o tempo. No Psicodrama dizemos que toda a saúde e doença emocional nasce nas relações, ou seja, são aprendidas durante o desenvolvimento através dos modelos que recebemos, primeiramente por nossa família de origem e secundariamente através das demais relações que vivenciamos durante a vida.
Nos primeiros anos de vida necessitamos da confirmação de nossas atitudes, da certeza de que nosso comportamento está sendo aceito pelas pessoas que amamos. Com o nosso desenvolvimento emocional, passamos a desejar e não mais necessitar dessa aprovação. Aprendemos a nos relacionar com o mundo pelas regras que recebemos em nossa família. A criança é espontânea e criativa por natureza, ninguém nasce culpado em ser espontâneo. A dependência afetiva muitas vezes nasce e é sustentada por problemas no relacionamento familiar, pelos conflitos pessoais, pela sensação de rejeição e de não ser aceito.
Certa vez recebi em meu consultório uma jovem de 22 anos, vou chama-la aqui de Joana. Joana veio para a psicoterapia porque tinha muitas dificuldades afetivas, era brilhante aluna, fazia faculdade e tinha ótimas notas, mas tinha dificuldade de arrumar namorado, era introvertida, sentia-se feia e sem graça. Joana tinha uma grande amiga de quem falava muito. Estava sempre contando como sua amiga se saía bem com os rapazes e tinha várias paqueras, mas em compensação tinha péssimas notas, dependia de suas colas para passar de semestre. Durante o processo terapêutico, Joana percebeu que cada uma desempenhava um papel na relação, ou seja, uma cuidava dos estudos e a outra arrumava amigos e namorados, funcionavam como se fossem uma única pessoa.
Apesar de nunca ter percebido até então esse trato, era difícil vencé-lo, mesmo porque Joana não acreditava que pudesse ser alguém interessante, ou mesmo algum dia se sentir bonita. Nesse exemplo, Joana tinha dois caminhos possíveis: o primeiro era continuar nessa relação de dependência, onde uma supostamente supria a necessidade da outra, ou escolher o segundo caminho, o mais trabalhoso e também o mais saudável: perceber e enfrentar seus limites e suas próprias dificuldades, para poder superá-los.
Para pais e/ou educadores: exercitem o respeito às características genuínas de cada criança, respeitando sua natureza espontânea e sua criatividade. É importante aprender que dar limite é prova de amor e é diferente de reprovação. Dar parâmetros é dar condição para a criança desenvolver responsabilidade e aprender a superar as frustrações.
Não podemos perder de vista o humano que existe em nós, somos criatura e criadores capazes e, genuinamente, imperfeitos.
Sobre a autora
Sirley Bittú é Psicóloga Especialista Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
Consultório (11) 5083-9533
Email: sirley.regina@terra.com.br
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