segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ensaio sobre a Cegueira



Eu gostaria que a humanidade gastasse mais seu precioso tempo lendo. A leitura, além de abrir nossas mentes e de nos transportar para lugares incríveis, enobrece. Um povo sem cultura é como uma árvore sem raiz, não vive. O sábio Monteiro Lobato dizia: “Um país se faz com homens e livros”.

Parafraseando Lobato, acho mesmo que as pessoas se esqueceram do prazer da leitura. Se esqueceram ou nunca o adquiriram, né.

Levando em conta a indignação que se abateu sobre mim hoje, motivada pela mediocridade de humana, gostaria de recomendar a leitura do romance Ensaio sobre a cegueira, do ilustre escritor José Saramago. Mas não adianta só ver o filme, tem de ler o livro também, é mil vezes melhor.

Saramago foi o único escritor português a ganhar um premio Nobel, motivo suficiente para me apaixonar pelos seus livros. O livro que mais me fascinou e que requereu mais imaginação foi o “Ensaio sobre a Cegueira” publicado em 1995. Nesta obra, José Saramago foi reconhecido como “o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje” pelo crítico norte-americano Harold Bloom.


ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Autor: José Saramago
Gênero: Romance



Ensaio sobre a Cegueira fala-nos de uma epidemia que começa, inexplicavelmente, num sinal de trânsito, onde um homem, de repente, fica cego. Essa cegueira é caracterizada como um “mar de leite”, uma vez que, ao contrário de uma cegueira normal, apenas é visível um plano branco. O homem que se oferece para levar o primeiro cego a casa é o próximo a cegar, bem como a sua esposa, o médico que o atende e, a partir daí, a epidemia espalha-se. Em poucos dias, todos vão ficando cegos, exceto a mulher do médico. Um manicômio é o lugar escolhido pelo Ministério da Saúde para isolar todos aqueles que cegaram. Uma vez lá, só recebiam notícias exteriores através do rádio de um dos cegos. O número de cegos vai aumentando, o governo acaba, finda-se o trânsito.

O livro, em síntese, é uma crítica aos valores sociais e expõe o caos de quando se perde um dos sentidos e mostra quem realmente somos enquanto seres humanos. Neste romance, é possível encontrar tudo o que caracteriza a sociedade atual: o sectarismo (isolamento dos cegos num manicômio), a violência gratuita (os disparos dos soldados sobre os cegos), o cinismo dos políticos (medidas tomadas para tentar vencer a epidemia), o egoísmo (cada cego por si), os grupos armados (criminosos da ala 3), a poluição na cidade, etc.

Achei realmente interessante e astuto por parte do autor o fato de não mencionar o nome dos personagens. Estes, são identificados como “o primeiro cego”, “a mulher do primeiro cego”, “o médico”, “a mulher do médico”, “a mulher dos óculos escuros”, “o ladrão”…

José Saramago explica esta situação numa das passagens do seu livro:

“Tão longe estamos do mundo que não tarda que comecemos a não saber quem somos, nem nos lembramos sequer de dizer-nos como nos chamamos, e para quê, para que iriam servir-nos os nomes, nenhum cão reconhece outro cão, ou se lhe dá a conhecer, pelos nomes que lhes foram postos, é pelo cheiro que identifica e se dá a identificar, nós aqui somos como outra raça de cães, conhecemo-nos pelo ladrar, pelo falar, o resto, feições, cor dos olhos, da pele, do cabelo, não contam é como se não existisse, eu ainda vejo, mas até quando.”

O destaque do livro foca-se no papel da mulher do médico, a única que não fica cega, mas que mesmo assim se faz passar por uma apenas para ser transferida para o manicômio junto do seu marido. Esta mulher representa o amor incondicional. É ela que cuida de forma desvelada de todos os cegos, ajuda desconhecidos a tomar banho, a vestir-se, a comer, a ir à casa de banho, etc.

Neste livro, todos os preconceitos perdem valor e razão de ser pela falta de luz nos olhos. Racistas de mãos dadas com negros e amarelos. Ele revela o quanto os seres humanos podem ser e como muitas vezes são incompatíveis com sua dita lucidez. Um grande espelho, onde podemos enxergar-nos nos nossos próprios olhos e ver o reflexo da nossa real verdade, perceptível a todos os outros.


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